Segunda carta aberta sobre a Regulamentação CSA: Protegendo a privacidade e a soberania

Offener Brief zur Chatkontrolle

Sumário

Compartilhe este artigo:

Mais uma vez, a Mailfence une forças com empresas focadas em privacidade em toda a Europa para expressar preocupações sobre a proposta de regulamentação de abuso sexual infantil (CSA). Com uma votação decisiva no Conselho da União Europeia marcada para meados de outubro de 2025, os Estados-Membros serão chamados a definir uma posição oficial sobre o regulamento, um momento decisivo para o futuro da criptografia e da privacidade digital na Europa.

Além das sérias preocupações com privacidade e criptografia já apresentadas na primeira carta conjunta, essa nova legislação representa uma ameaça significativa à soberania digital europeia, justamente em um momento em que ela é mais necessária.

A União Europeia desenvolveu um setor tecnológico vibrante, oferecendo alternativas viáveis às grandes empresas de tecnologia norte-americanas, especialmente em áreas como comunicação segura, serviços em nuvem e infraestrutura digital confiável. No entanto, a proposta de Regulamentação CSA coloca em risco esses avanços, atingindo diretamente as empresas que construíram sua vantagem competitiva com base na proteção de dados e na segurança.

Ao obrigar provedores focados em privacidade a escolher entre comprometer sua arquitetura de segurança ou enfrentar exigências de conformidade praticamente impossíveis, o regulamento enfraquece a posição competitiva do setor tecnológico europeu e empurra os usuários de volta para plataformas que não necessariamente seguem os valores europeus ou os padrões de proteção de dados.

Esta segunda carta aberta, coordenada pela Mailfence, Tuta e Proton, é coassinada por grandes empresas europeias de tecnologia focadas em privacidade e por representantes de mais de 45 mil pequenas e médias empresas (PMEs) europeias.

Segunda Carta Aberta aos Estados-Membros da União Europeia sobre a proposta de Regulamentação CSA

“Prezados Ministros e Embaixadores dos Estados Membros da UE,

Nós, empresas europeias signatárias, juntamente com a European DIGITAL SME Alliance, que representa mais de 45 mil pequenas e médias empresas digitais em toda a Europa, escrevemos para expressar nossa profunda preocupação em relação à proposta de Regulamento sobre o Combate ao Abuso Sexual Infantil (CSA).

Proteger as crianças e garantir a segurança de todos os usuários em nossos serviços e na internet como um todo está no centro da nossa missão como empresas comprometidas com a privacidade.

Vemos a privacidade como um direito fundamental, que sustenta a confiança, a segurança e a liberdade on-line tanto para adultos quanto para crianças. No entanto, estamos convencidos de que a abordagem atualmente seguida pela Presidência dinamarquesa não apenas tornaria a internet menos segura para todos, como também enfraqueceria um dos objetivos estratégicos mais importantes da União Europeia: avançar rumo a níveis mais altos de soberania digital.

A soberania digital é o futuro estratégico da Europa

Em um mundo cada vez mais instável, a Europa precisa desenvolver e controlar sua própria infraestrutura digital segura, bem como seus serviços e tecnologias, de acordo com os valores europeus. A única forma de reduzir os riscos associados a essa dependência é fortalecer os provedores europeus de tecnologia inovadora..

A soberania digital é importante por dois motivos principais:

  • Independência econômica: O futuro digital da Europa depende da competitividade de suas próprias empresas. No entanto, forçar os serviços europeus a enfraquecer seus padrões de segurança por meio da varredura de todas as mensagens (inclusive as criptografadas) com tecnologias de client-side scanning colocaria em risco a segurança dos usuários e violaria os altos padrões europeus de proteção de dados. Como consequência, usuários europeus e clientes globais perderiam a confiança nos serviços locais, migrando para provedores estrangeiros. Isso tornaria a Europa ainda mais dependente das gigantes americanas e chinesas, que muitas vezes não seguem nossas regras, enfraquecendo a capacidade competitiva do bloco.
  • Segurança nacional: A criptografia é essencial para a segurança nacional. Obrigar empresas a adotar portas dos fundos (backdoors) ou outras tecnologias de varredura criaria vulnerabilidades inevitáveis, que poderiam ser exploradas por agentes hostis e cibercriminosos. Por esse motivo, os próprios governos se isentaram das obrigações de varredura previstas na proposta da Regulamentação CSA. Ainda assim, informações sensíveis de empresas, políticos e cidadãos estariam em risco caso a proposta avançasse, enfraquecendo a capacidade da Europa de proteger sua infraestrutura crítica, suas empresas e seu povo.

A Regulamentação CSA ameaça a confiança nas empresas europeias

A confiança é a maior vantagem competitiva da Europa. Graças ao GDPR e à sólida estrutura de proteção de dados europeia, as empresas do continente construíram serviços nos quais usuários do mundo todo confiam pela segurança, integridade e respeito à privacidade.

Essa reputação foi conquistada com esforço e representa um diferencial único que os monopólios da Big Tech jamais conseguirão igualar. Trata-se de uma das poucas, senão a única, vantagens competitivas reais da Europa em relação aos Estados Unidos e à China no setor tecnológico.

No entanto, a Regulamentação CSA coloca esse sucesso em risco.

O texto legal enfraqueceria as empresas europeias éticas e centradas na privacidade, ao obrigá-las a comprometer as mesmas garantias de segurança que hoje diferenciam seus serviços no cenário internacional. Isso é ainda mais preocupante considerando que o governo dos Estados Unidos proíbe explicitamente suas empresas de enfraquecer a criptografia, mesmo que isso seja exigido por leis da União Europeia¹.

No fim das contas, a Regulamentação CSA seria um presente para as empresas norte-americanas e chinesas, pois faria a Europa destruir sua única vantagem competitiva, abrindo ainda mais espaço para a dominação da Big Tech.

As contradições enfraquecem as ambições digitais da Europa

A União Europeia assumiu o compromisso de reforçar a cibersegurança por meio de medidas como o NIS2, o Cyber Resilience Act e o Cybersecurity Act². Essas políticas reconhecem que a criptografia é essencial para a independência digital da Europa. A Regulamentação CSA não deve comprometer esses avanços ao criar vulnerabilidades sistêmicas obrigatórias.

Seria incoerente investir em segurança cibernética com uma mão e, ao mesmo tempo, legislar contra ela com a outra.

As pequenas e médias empresas europeias serão as mais afetadas

As pequenas e médias empresas (PMEs) seriam as mais prejudicadas caso fossem obrigadas a implementar a varredura no lado do cliente (client-side scanning). Diferentemente das grandes corporações de tecnologia, as PMEs geralmente não dispõem de recursos financeiros e técnicos para desenvolver e manter mecanismos intrusivos de vigilância, o que tornaria o cumprimento da norma financeiramente inviável ou as forçaria a deixar o mercado.

Além disso, muitas dessas empresas construíram sua posição no mercado com base na oferta de altos níveis de proteção de dados e privacidade, um fator decisivo, especialmente na Europa, para que muitos consumidores prefiram seus produtos aos das Big Techs. Tornar obrigatória a varredura no lado do cliente enfraqueceria exatamente esse diferencial competitivo que define tantas empresas europeias.

Isso sufocará a inovação europeia e consolidará o domínio de provedores estrangeiros. Em vez de construir um ecossistema digital vibrante e independente, a Europa corre o risco de legislar contra suas próprias empresas, expulsando-as do mercado.

Por esses motivos, fazemos um apelo para que:

  • Sejam rejeitadas todas as medidas que obriguem a implementação de varredura no lado do cliente (client-side scanning), portas dos fundos (backdoors) ou vigilância em massa de comunicações privadas, como as que constam atualmente na proposta dinamarquesa de posição do Conselho sobre a Regulamentação CSA.
  • Reitere-se a proteção da criptografia, como forma de fortalecer a cibersegurança e a soberania digital europeia.
  • Preserve-se a confiança que as empresas europeias conquistaram internacionalmente.
  • Garanta-se que as regulamentações da União Europeia fortaleçam, e não enfraqueçam, a competitividade das pequenas e médias empresas europeias (PMEs).
  • Sejam adotadas medidas de proteção infantil eficazes, proporcionais e compatíveis com o objetivo estratégico da Europa de garantir sua soberania digital.

A soberania digital não pode ser alcançada se a Europa comprometer a segurança e a integridade de suas próprias empresas ao impor varredura no lado do cliente ou outras ferramentas e metodologias destinadas a escanear ambientes criptografados, algo que especialistas já confirmaram ser impossível de realizar sem enfraquecer a criptografia.

Para liderar a economia digital global, a União Europeia deve proteger a privacidade, a confiança e a criptografia.”

Signatários:
Blacknight (Irlanda)Logilab (França)Skylabs (Irlanda)
Commown (França)mailbox (Alemanha)Sorware Ay (Finlândia)
CryptPad (França)Mailfence (Bélgica)Soverin (Holanda)
Ecosia (Alemanha)Mailo (França)Startmail (Holanda)
Element (Alemanha)moji (França)Surfshark (Holanda)
E-Foundation (França)Murena (França)TeleCoop (França)
European DIGITAL SME Alliance (Europa)Nextcloud (Alemanha)The Good Cloud (Holanda)
Fabiano Law Firm (Itália)Nord Security (Lituânia)Tuta Mail (Alemanha)
FlokiNET (Islândia)Octopuce (França)Unicorns Lithuania (Lituânia)
FFDN (França)Olvid (França)Volla Systeme GmbH (Alemanha)
Gentils Nuages (França)OpenCloud (Alemanha)WEtell (Alemanha)
Hashbang (França)OpenTalk (Alemanha)Wire (Suíça)
Heinlein Group (Alemanha)Phoenix P&D (Alemanha)XWiki SAS (França)
LeBureau.coop (França)Proton (Suíça)zeitkapsl (Áustria)

1 https://www.ftc.gov/news-events/news/press-releases/2025/08/ftc-chairman-ferguson-warns-companies-against-censoring-or-weakening-data-security-americans-behest

2 https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/europe-fit-digital-age_pt

Recupere sua privacidade de e-mail.

Crie seu e-mail gratuito e seguro hoje.

Foto de Patrick De Schutter

Patrick De Schutter

Patrick é o cofundador da Mailfence. Ele é um empreendedor em série e investidor em startups desde 1994 e lançou várias empresas pioneiras na Internet, como Allmansland, IP Netvertising ou Express.be. Ele acredita e defende firmemente a criptografia e a privacidade. Você pode seguir @pdeschutter no Twitter e no LinkedIn.

Recomendado para você